Estava eu no Canadá, numa das muitas vezes que por ali aparecia. Habitualmente fazia rádio com o meu amigo Zé Mário.
Também fiz nas Ondas de Espanha, mas desta vez foi na CIRVFM. Recebíamos imensas chamadas. Conversávamos em directo. Era engraçado.
A maior parte das vezes, entrava no estúdio e o Ze Mário nunca me dizia antes do que iríamos falar, portanto era a bagagem que trago comigo, que suportava o que viesse. E até não era mau.
Quando eu falava de Numerologia, área que estudei no Brasil, no Canadá e nas Caraíbas, onde as pessoas se interessam muito por estas matérias, nesses dias de emissão, as linhas entupiam e quando acabava ainda tinha mais de 30 chamadas. Ficava mesmo cansada.
As pessoas davam a data do nascimento e de seguida tinham a indicação do seu caminho de vida. E coincide sempre! Então cada dia havia mais gente em linha. Umas diziam às outras, Homens e Mulheres. Mas um dia foi diferente.
Uma senhora queria muito conhecer-me. Combinou ir ter comigo. Convidou me para jantar e depois ir a sua casa, porque me queria mostrar uma coisa. Dizia que a sua casa era perto, mas o Canadá é um país imenso, então a viagem foi mesmo longa. Chegámos depois de termos jantado no restaurante Lisboa. Mal se abre a porta, apresenta-me um caixote que devia ter servido de protecção a um grande aparelho de televisão, tal era o seu tamanho! Então o caixote mágico estava cheio de papelinhos com as suas…poesias.
Li..li..li ..Pedia me comentários...Eu quase que caía para o lado, mas a senhora, muito mais velha do que eu, tinha uma resistência tal que nunca... nunca se calava!
Depois levou-me ao seu quarto, que era maior que todo o primeiro andar da minha casa que não é pequena também! Espaço é o que não falta nas casas do Canadá…
Em cada canto do quarto havia um rádio sintonizado com Lisboa, com Cirvfm , com esta e aquela estação de rádio diferentes. Ela sabia todas as programações de cor, o nome de todas as pessoas que faziam rádio. Sabia onde moravam. Tinha seus telefones particulares. Sabia a data dos aniversários e até sabia se alguém tinha alguma irregularidade na sua vida particular. Enfim eu estava desejosa de me deitar. E de poder descansar um pouco a minha cabeça. Eu nunca abri a boca.
Levou-me ao quarto, mas...ficou lá a conversar. A contar-me que a sua maior paixão e distracção, era fazer sofrer os homens! E...ria ...ria ...ria.
Era uma velha rija. Gaiteira. Magrita e cheia de vitalidade. Vestia-se como uma boneca.
Então contava-me ‘que os parvos dos homens’ apaixonavam-se por ela. Isso era o que ela queria, porque depois fazia-os sofrer até ao desespero.
ACREDITO…
...porque a história continuou, mas não vos vou massacrar como eu o fui. Só para dizer que quando ela me deixou ao outro dia na Clínica, onde eu fazia algum atendimento, cheguei tão desesperada que só disse:
Deixem-me ir para o quarto escuro e nunca me chamem. Agora não posso falar…
A senhora levou-me ao desespero.
Ia-me matando com tanto falar.
Nunca se calou! Nunca!
E...desapareci.
Lucinda Ferreira
1 comentário:
Esta situação foi penosa, pois me esgotou de tal modo que nunca mais me esquecerei.
Mas tenho saudade daquele tempo interessante de alargamento de horizontes. Lucinda ferreira
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