quinta-feira, outubro 11, 2012

Mo Yan, Prémio Nobel da Literatura

Os romances de Mo Yan, o escritor chinês galardoado hoje com o Prémio Nobel da Literatura, estão enraizados na China rural, onde nasceu, mas revelam também influências do "realismo mágico" e outras correntes ocidentais, dizem críticos e tradutores. William Faulkner, Gabriel Garcia Marquez, Oe Kenzaburo e Rabelais são os autores preferidos de Mo Yan, disse o professor norte-americano Howard Goldblatt, um dos mais conhecidos tradutores de literatura chinesa, entre os quais três títulos do autor distinguido agora pela Academia Sueca.

 Em Portugal foi publicado em 2007 o livro "Peito grande, ancas largas", traduzido por João Martins e editado pela Ulisseia. Nascido em 1956, Mo Yan é também um dos escritores chineses contemporâneos mais publicados fora da China, nomeadamente no Japão, França, Reino Unido, Alemanha e Estados Unidos. "Ele é o mais qualificado escritor chinês para ganhar o Nobel", disse Yang Xiaobin, um poeta e critico citado hoje por um jornal de Pequim e que há vários anos vinha "recomendando" a atribuição do prémio a Mo Yan. Mo Yan (pseudónimo literário de Guan Moye) nasceu na província de Shandong, leste da China, "no seio de uma família pobre" e "foi forçado a abandonar a escola primária durante a Revolução Cultural (1966-76)", diz o Dicionário Biográfico de Modernos Escritores Chineses, publicado na década de 1990. Segundo a mesma biografia, o futuro escritor tornou-se então camponês e aos 20 anos, ingressou no Exército, onde "serviu como funcionário de segurança e instrutor político e de propaganda". A sua primeira obra literária, um conto que começou a escrever enquanto ainda era soldado, saiu em 1981. Seis anos depois publicou um romance de grande sucesso, "Red Sorghum", que seria adaptado ao cinema por Zhang Yimou. O filme, com Gong Li e Jiang Wen, ganhou o Urso de Ouro do Festival Internacional de Berlim em 1988. Entre os títulos que Mo Yan publicou a seguir figuram The Republic of Wine" (2000), "Big Breasts and Wide Hips" (2005) e "Life and Death are Wearinng me out", todos traduzidos por Howard Golblatt, professor de chinês na University of Notre Dame, nos Estados Unidos. Em 2011, Mo Yan ganhou o Premio Mao Dun, o mais importante galardão literário oficial do país, e foi eleito vice-presidente da Associação dos Escritores da China. O seu mais recente romance, "Frog", aborda um tema especialmente sensível: a prática de abortos forçados na China devido à drástica política de controlo da natalidade imposta há três décadas sob a fórmula "um casal, um filho". "Em todos os países há certas restrições à escrita", disse o autor numa entrevista concedida há dois anos à revista Time. Mo Yan considera que "um escritor deve enterrar os seus pensamentos e transmiti-los através dos personagens dos seus romances". O pseudónimo que criou significa, aliás, "não fales".

Lusa

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